sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Os três deuses possíveis para cada indivíduo


Não sou filósofo [se bem que eu gostaria], muito menos um doutrinador. O texto que você irá ler agora é fruto de uma mente que, segundo minha amiga Gabi, "fica fritando o dia inteiro". Por diversas vezes, as respostas para as questões mais elementares de nossas vidas não estão nos livros, nas revistas, nos argumentos de autoridade, no comercial de margarina, ou mesmo no Fantástico. Quando a resposta não nos é revelada, é necessário que a busquemos não fora, mas no interior de nossa mente. O cérebro não é uma apêndice, use-o. Este texto não pode te dar as respostas certas, mas se ele te dar as dúvidas certas, já ficarei muito satisfeito. Assim, deixo-te um provérbio latino que diz: "Ubi dubium ibi libertas" [onde há dúvida há liberdade]. Este texto tratará sobre DEUS. Boa leitura.

A ideia da existência de um deus [ou vários] é algo terrivelmente complexo. Esta complexidade vai além da fé que temos na existência de da divindade. A seguir meditaremos nas três esferas da existência, ou inexistência de Deus. Este texto não se limita ao Deus da três principais religiões monoteístas [Judaísmo, Cristianísmo e Islamismo], nem aos fiéis na existência de "alguem superior".

1ª Esféra: O Deus de fato

A primeira esféra é sem dúvida a mais difícil de se estudar, pois trata da existência ou não de Deus, de seu verdadeiro caráter, de sua natureza [una, triuna, plural, corpórea, incorpórea]. Ao nosso ver, esta esféra é inacessível à nossa mente que não consegue perceber mais que quatro dimensões [altura, largura, profundidade e tempo]. Para nós, só podemos nos aproximar deste "Deus de fato" através daquila que os leigos dizem que é inimiga de Deus, a Ciência. A Ciência não pode, e talvez nunca poderá, provar a existência ou inexistência de Deus. Mas, ao estudar a natureza e o seu funcionamento, poderá ter um pequeno vislumbre de como o seu [possível] Criador trabalha. Quando vamos a algum restaurante, dificilmente conhecemos o chefe, ou cozinheiro, mas podemos julgar o seu talento e suas habilidades só de experimentarmos o alimento preparado por ele.
um encontro com Deus seria a melhor maneira de saber como Ele é de fato, além de ser prova suficiente de sua existência. Porém, não nos encontrarmos com ele, não é prova de sua inexistência. Já dizia Carl Sagan, "ausência de evidência, não é evidência de ausência". Não espere compreender o Deus de fato, talvez você morra sem conhece-lo. Talvez você o veja ao acordar da morte. Talvez você nunca acorde da morte.

2ª Esféra: O Deus social

Este é o deus que nos é apresentado desde os dias mais imemoriáveis de nossa infância, e é o deus dos livros sagrados. Ninguém lembra quando o conheceu, é como se nos acompanhasse desde sempre... mas sim, ele foi apresentado a nós, e às vezes foi imposto. O deus social é uma representação, muitas vezes artificial, dos que a humanidade espera que seja o deus de fato. Será que não poderíamos inocentar deus [o de fato] de todo o sangue derramado em seu nome? Podemos, seguramente, atribuir a culpa de todo sangue derramado ao deus social, aquele que é feito "à imagem e semelhança do homem". Porém, devemos reconhecer que existem milhões de deuses sociais, muitos deles levam o nome de Jesus, Alláh, Jeová, Espírito Santo. Existe o deus que aceita uma bomba prese ao corpo de um fiel, e existe aquele [com o mesmo nome], que ordena a não-violência, e o amor ao próximo. A ambiguidade do deus social encontra seu fundamento na ambiguidade dos humanos. Não excluamos a possibilidade que algum destes deuses sociais possa ser a manifestação revelação do Deus de fato.

3ª Esfera: O Deus pessoal

Com o perdão da piada, este é o deus "faça você mesmo". É aquele que faz com que um traficante se torne um pregador do evangelho, é quem toca e transforma os corações mais duros, ao mesmo tempo que pode ser aquele que enlouquece, fazendo com que um homem de paz se torne um assassino terrível. Muitas vezes, este deus pessoal, que nós criamos e aceitamos para nos acompanhar em nosso dia-a-dia é uma cópia quase exata do deus social, outras vezes, é fruto de reflexão e/ou alguma experiência pessoal, pode ser a cópia do deus de fato, para muitos, o deus pessoal não existe.
De qualquer maneira, é válido o conselho de Paulo, "de tudo, extraia o que é bom". Bom seria, se cada um de nós procurasse, individualmente, este deus, quem sabe, como uma maneira de se aproximar do Deus de fato, ou se libertar da ilusão da existência de um. Não importa, deve-se desenvolver em nós um deus que nos aperfeiçoe no bem, no amor e na justiça. Eu estou a procura do meu, e você, já conversou com ele hoje?